Lula ergue voz em Pequim e desafia séculos de dependência: “Não seremos figurantes no século XXI”

Pequim, 13 de maio — Em um pronunciamento carregado de simbolismo geopolítico, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez soar em solo chinês um alerta que ecoa por todo o Sul Global: ou América Latina e Caribe se unem em torno da integração com a China, ou correm o risco de permanecer como meros coadjuvantes no tabuleiro do século XXI.
Na abertura do IV Fórum CELAC-China, Lula não limitou-se à diplomacia protocolar — fez um apelo urgente pela reconfiguração das relações internacionais, chamando atenção para a dependência histórica da região em relação às grandes potências ocidentais. “A revolução digital não pode criar um novo abismo tecnológico entre as nações. O desenvolvimento da Inteligência Artificial não deve ser um privilégio de poucos”, declarou, em tom de advertência.
Lula escancarou o papel estratégico da China no financiamento de infraestrutura e inovação, colocando em xeque a letargia das instituições tradicionais, como o Banco Mundial e o BID. “Recursos chineses já superam os desses bancos. A pergunta é: vamos continuar mendigando crédito em fóruns que nos tratam como colônia, ou vamos erguer nossas próprias pontes com quem está disposto a investir no nosso futuro?”, disparou o presidente, sob aplausos.
O discurso foi mais que um balanço de parcerias. Foi um grito por soberania e articulação regional. Relembrou a força da demanda chinesa na redução da pobreza nos anos 2000, evocou o surgimento da UNASUL e da CELAC como marcos de uma consciência regional e apontou para a COP30, que será sediada em Belém, como “um ponto de virada na história climática do planeta”.
Ao citar a possibilidade de a América Latina e o Caribe indicarem a primeira mulher à Secretaria-Geral da ONU, Lula lançou um desafio direto à arquitetura de poder global: “A governança mundial já não espelha a diversidade da Terra. Estamos presos a uma ordem anacrônica que fracassou em impedir o flagelo da guerra e da desigualdade.”
A mensagem é clara: ou a América Latina desperta e ocupa seu espaço com ousadia e pragmatismo, ou continuará sendo espectadora da nova ordem que se desenha entre Pequim e o Sul Global. Lula convocou os líderes da região a uma escolha histórica — e não há mais tempo para hesitação.