- Renata Abreu
A escola é espelho do que ocorre fora de seus muros. Na escola, a sociedade reflete sua melhor e sua pior essência humana. No espaço escolar, infelizmente, se reproduzem os atritos sociais mais amplos que estamos vivenciando nos últimos tempos: bullying, racismo, intolerância religiosa, homofobia, etarismo, misoginia… E quando atinge o ponto mais alto do sufocamento existencial, a violência transborda, deixando expostas, além da dor e da perplexidade, a cegueira e o fracasso social em mais uma tragédia anunciada.
Poucas horas depois do ataque numa escola na Zona Oeste de São Paulo, que vitimou uma professora de 71 anos e que deixou cinco feridos, em um colégio na Zona Leste paulistana uma mãe de 47 anos ameaçou com uma faca os funcionários, revoltada que estava por ter perdido o auxílio governamental em razão das faltas de sua filha às aulas. Ela acabou sendo desarmada e detida antes de termos mais um episódio perturbador nesse dia. Tanto um caso quanto o outro mostram que nada impede de se entrar armado num estabelecimento de ensino. É o livre acesso à violência escolar.
Aliás, a mídia tem noticiado com frequência casos sobre violência escolar no Brasil, que vem numa crescente. Os números de ocorrências preocupam: mais de 70% dos estudantes já presenciaram agressões físicas e verbais entre os alunos, e mais de 30% já se envolveram diretamente em brigas. Pesquisa da Associação dos Professores do Estado de São Paulo aponta a escalada de todo tipo de agressões contra os profissionais de ensino: mais da metade dos professores (54%) disseram já ter sofrido danos físicos e emocionais. Essa é uma das causas que cada vez menos jovens desejam ser professores em nosso País.
Os motivos da violência protagonizada em salas de aula são os mais diversos: exclusão social, ausência de limites no ambiente familiar e transferência do papel dos pais na educação dos filhos. Isso sem contar o sentimento de incapacidade dos agentes escolares diante de situações graves, como o fácil acesso de alunos a armas e ao tráfico de drogas. Como reagir diante a isso? Lembra da professora Haley de Abreu Silva Batista? Em 5 de outubro de 2017 ela morreu ao lutar com o ex-vigia noturno da creche Gente Inocente em Janaúba (MG), Damião Soares dos Santos, que colocou fogo nas salas de aula com criancinhas dentro? O ato heroico de Haley salvou 28 crianças e 3 adultos, mas ela não sobreviveu.
O heroísmo dela, assim como da merendeira Silmara Cristina Silva de Moraes (que escondeu 50 estudantes na cozinha quando dois ex-alunos invadiram uma escola em Suzano em 13 de março de 2019, mataram sete pessoas e cometeram suicídio) e agora das professoras da escola da Zona Oeste de São Paulo (27/3/2023) não pode ser a única ferramenta que temos para combater a violência escolar. O que elas fizeram foi ato de muito amor por seus alunos, que jamais será esquecido, mas isso é loucura. Ninguém tem que morrer para salvar outras vidas. Temos, isso sim, é de impedir que a violência entre na escola!
Os problemas dentro dos estabelecimentos de ensino são complexos, e ninguém sozinho pode resolvê-los. Poder público, escola e pais precisam caminhar na contramão do que prega a sociedade, que, com tantos atritos sociais, vem criando alienação e adoecimento de nossos jovens estudantes. E se nada fizermos, outras tragédias em ambiente escolar acontecerão.
Uma das medidas que considero extremamente eficaz é desenvolver nos alunos suas habilidades emocionais para lidar com relacionamentos, situações imprevistas e conflitos. Para tanto, Inteligência Emocional precisar ser disciplina obrigatória na Educação Básica. Essa é uma das lutas que estamos travando no Congresso, por meio de nosso Projeto de Lei 3005/19. A escola é o espaço apropriado para o despertar dessas capacidades. Encarar os desafios da vida de forma construtiva desde cedo é decisivo para o sucesso escolar do estudante, impactando positivamente seu aprendizado e rendimento escolar.
Estamos diante do sinal de alerta piscando forte, portanto, se faz urgente reforçar o diálogo, a convivência, a harmonia e o respeito. O papel das escolas é fundamental, mas todos precisam ser ouvidos e precisam trabalhar juntos!
- Renata Abreu é deputada federal por São Paulo e presidente nacional do Podemos.