Por Diego Barreto e Sandor Caetano*
O avanço da inteligência artificial (IA) tem suscitado debates sobre seu impacto no mercado de trabalho. Diferentemente das preocupações com a substituição de empregos, a IA tem se mostrado um catalisador para o crescimento econômico. Embora casos de demissões relacionadas à IA, como nas empresas Amazon, Google e Duolingo, tenham sido noticiados, a realidade é que a automação impulsiona a produtividade, abrindo caminho para novas oportunidades.
Em uma pesquisa realizada pela Microsoft em 2023, cerca de 49% dos trabalhadores em todo o mundo expressaram preocupações sobre a possibilidade de ferramentas inteligentes substituírem a mão de obra humana. No entanto, é crucial compreender que a jornada entre empregabilidade e IA é sinérgica, não antagônica.
Ethan Mollick, professor especializado em inovação e IA, destaca um estudo recente em que consultores utilizando GPT-4 aumentaram sua produtividade em 12,2%, concluíram tarefas 25,1% mais rapidamente e com qualidade 40% superior. A melhora na produtividade, embora possa alterar a natureza do trabalho, está mais associada ao trabalhador autônomo.
A automação, historicamente temida em diversas fases de inovação, é um mecanismo de eficiência que, quando significativa, gera reinvestimento e crescimento, resultando em mais oportunidades de emprego. A implementação de tecnologias como a IA não visa apenas cortar custos, mas expandir as oportunidades de negócios. Empresas que inovam com IA não só economizam recursos, mas também ampliam sua capacidade de competir no mercado.
Ao automatizar tarefas repetitivas, a IA possibilita que os colaboradores foquem em atividades mais estratégicas, aumentando não apenas a produtividade, mas também proporcionando oportunidades para o desenvolvimento de habilidades avançadas. A interpretação e comunicação de insights gerados por sistemas de IA tornam-se valiosas, enfatizando a importância não apenas da expertise técnica, mas também da habilidade de traduzir resultados complexos para diferentes stakeholders.
Vamos a um exemplo prático que vivenciamos recentemente, demonstrando como a IA vem para somar: conhecemos um empresário que tentava explicar a um arquiteto como ele queria sua casa nova. Após várias reuniões entre os dois, nenhuma versão inicial do projeto havia sido aprovada devido à dificuldade de comunicação. Então, após várias conversas, esboços e revisões, ainda sem alcançar o resultado desejado, o cliente recorre ao GPT-4 e ao DALL-E. Somente então ele consegue gerar projetos que não só captavam exatamente suas ideias e gostos, como também forneciam detalhes técnicos importantes ao arquiteto, economizando tempo e esforço significativos de ambas as partes.
A revolução da IA já está em curso, e aqueles que a integram em suas práticas diárias obtêm uma vantagem competitiva inestimável. A capacidade de adaptação e aproveitamento das oportunidades oferecidas pela IA tornou-se um divisor de águas no mercado de trabalho moderno.
Empresas inovadoras geram demanda por profissionais especializados em desenvolvimento, implementação e manutenção de tecnologias baseadas em IA. Além disso, surgem novas funções, como especialistas em ética de IA. A transformação em organizações impulsionadas por IA requer envolvimento de toda a empresa, com uma visão de longo prazo e comunicação eficaz.
Equipes de IA devem colaborar estreitamente com equipes de negócios, tornando cada profissional parte ativa do crescimento impulsionado pela IA. A empregabilidade, nesse contexto, está relacionada à adaptação e aprendizado contínuo. Colaboradores que abraçam a IA e desenvolvem habilidades complementares tornam-se ativos valiosos em um mercado de trabalho em evolução.
Ao considerar o futuro do trabalho moldado pela inteligência artificial, a empregabilidade não está em declínio; está em transformação. Aqueles que se capacitam e se adaptam a essa nova era encontram-se bem posicionados para impulsionar suas carreiras em direção a um horizonte cada vez mais orientado por dados e inovação. A jornada é desafiadora, mas as oportunidades são vastas, e a chave está em enfrentar a mudança com determinação e flexibilidade.
*Diego Barreto é Vice-Presidente de Finanças e Estratégia do iFood e Sandor Caetano é Chief Data Officer do PicPay. São autores do livro O Cientista e o Executivo, pela editora Gente.