Brasília silencia. E o silêncio, neste caso, é cúmplice.
Enquanto a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), sob a voz de Mark Rutte, ameaça o Brasil com tarifas de até 100% por manter relações comerciais com a Rússia, a maioria dos nossos representantes cochila sobre os riscos que isso impõe à soberania nacional.
Exceto uma. A deputada federal Silvia Waiãpi (PL-AP) já vinha gritando no deserto desde o ano passado. Denunciava, quase solitariamente, o que chamava de triangulação nebulosa entre navios russos e venezuelanos que, sorrateiramente, aportam no Porto de Santana, no Amapá, carregando diesel subsidiado, burlando regras, impostos e, agora se vê, fronteiras diplomáticas.
Enquanto o governo federal brinca de neutralidade com os BRICS, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) reconheceu que 215 mil metros cúbicos de diesel russo entraram no país pelas mãos de empresas registradas no Amapá. Um volume robusto demais para passar despercebido por autoridades que, ora vejam, negam a entrada de navios russos nos registros portuários. Mentira por omissão? Inépcia técnica? Ou conivência?
Silvia Waiãpi enviou ofícios ao Ministério Público do Amapá, alertou para a possível sonegação de ICMS graças à alíquota de apenas 4% no estado, e convocou audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara. Foi taxada de alarmista.
Hoje, com os canhões diplomáticos da Otan apontados para Brasília, não se trata mais de tributos. Trata-se de soberania. De política externa. De sobrevivência geopolítica.
O Brasil brinca de ser neutro num mundo em guerra. Mas a guerra não pede licença para entrar. Entra.
E quando os estilhaços vierem sob a forma de tarifas, isolamento ou chantagens, não digam que ninguém avisou. Uma indígena do Amapá, com coragem e lucidez, já estava no front.

