A experiência de Umirim e de Oscar Rodrigues, prefeito de Sobral, inscreve-se, assim, nas páginas da história como manifestação de um Nordeste que não se limita ao discurso da carência, mas reivindica protagonismo, memória e futuro.
Trata-se de um caso emblemático em que o entrelaçamento entre educação, religiosidade, iniciativa privada e gestão política local dá origem a um modelo de desenvolvimento profundamente enraizado em valores culturais e em estratégias de afirmação regional. Umirim, antes um município periférico na geografia econômica do Ceará, transforma-se em espaço simbólico de um projeto que combina identidade, permanência e transformação.
Oscar Spíndola Rodrigues Júnior, natural de Sobral e nascido em 1957, é figura central dessa construção. Começou sua trajetória como professor da rede pública, ministrando aulas de inglês, matemática, física e outras disciplinas em escolas da região. Paralelamente, atuou como perito da Polícia Civil e depois ingressou na carreira universitária, lecionando por 25 anos na Universidade Estadual Vale do Acaraú. Com formação multidisciplinar e sólida trajetória intelectual, Oscar fundou, em 1999, o Instituto de Teologia Aplicada (INTA), marco inicial do que se tornaria, anos depois, o Centro Universitário UNINTA.
A expansão do UNINTA, hoje com unidades em Sobral, Tianguá, Itapipoca, Fortaleza e Umirim, não apenas responde à demanda por ensino superior de qualidade no interior nordestino, como também inaugura uma nova lógica de ocupação do território. A presença da instituição em cidades médias e pequenas promove não só acesso à educação, mas também circulação de conhecimento, dinamização da economia local e fortalecimento de redes comunitárias.
A consolidação do Grupo GORJ (Grupo Oscar Rodrigues Júnior), com atuação na construção civil, no setor educacional e na agropecuária de precisão, amplia o escopo dessa experiência. A Fazenda THANKS, em Umirim, destaca-se como símbolo desse novo ciclo. Ali se desenvolve o projeto da Cidade Encantada — conjunto arquitetônico e cultural inspirado no Brasil Colonial e no Brasil Império, com igrejas, pontes levadiças, castelos, internatos, açudes, e capelas moldadas segundo referências bíblicas.
A proposta é mais que estética ou turística. Trata-se de uma pedagogia da memória, que busca valorizar o sertão enquanto espaço histórico e simbólico. Cada construção, cada referência ali presente não apenas recupera o passado, mas propõe uma forma alternativa de inserção do sertão no presente. A história nacional, muitas vezes narrada a partir dos centros urbanos do Sudeste, é aqui reinterpretada a partir das margens, agora convertidas em centro de significação e projeto.
A estrutura familiar de Oscar Rodrigues também revela uma configuração política específica. Seus filhos ocupam posições-chave nas esferas administrativa, acadêmica e política. Judson é prefeito de Umirim. Moses, deputado federal. Daniel e Lara dirigem o UNINTA como reitor e vice-reitora. Alysson e Lucas coordenam a gestão administrativa e de campus. Tal arranjo, embora familiar, responde a critérios técnicos e meritocráticos, formando um núcleo de continuidade e estabilidade institucional.
A eleição de Oscar como deputado estadual e, em seguida, como prefeito de Sobral, representou uma virada significativa na política local. Sua ascensão foi respaldada não apenas por sua atuação educacional e empresarial, mas também por sua capacidade de estabelecer pontes entre o passado cultural da região e as demandas contemporâneas por desenvolvimento e reconhecimento.
A Cidade Encantada, por sua vez, oferece um modelo de ressignificação do espaço rural e da memória histórica. Através de sua materialidade, afirma-se um discurso de identidade, pertencimento e afirmação regional que dialoga com os processos mais amplos de reconstrução simbólica no Brasil do século XXI.
Em síntese, a experiência de Umirim e de Oscar Rodrigues, prefeito de Sobral, revela como lideranças locais, munidas de visão estratégica e compromisso com a cultura, são capazes de formular projetos de enraizamento e futuro. Contra a lógica do esquecimento e da marginalidade, afirma-se um sertão em pé, com voz própria e vocação histórica. Um sertão que não espera, constrói. Que não repete, inventa. Que não esquece, transforma.
redacao@colunapolitica.com.br
Ronaldo Nóbrega é jornalista, memorialista e Editor Sênior do portal Coluna Política, com mais de 25 anos de atuação na imprensa e na análise institucional. Foi consulente no Tribunal Superior Eleitoral por 12 anos. Em 2005, protagonizou a Consulta 1.185, que contestou a Regra da Verticalização e impulsionou a Emenda Constitucional nº 52/2006, fortalecendo a autonomia partidária no Brasil. Sua contribuição está registrada na 27ª edição do Direito Constitucional Esquematizado (Editora Saraiva), de Pedro Lenza.

