Ronaldo Nóbrega

O Brasil esqueceu a República e Temer voltou para lembrá-la

Ronaldo Nóbrega  -   24 de julho de 2025

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Na quarta-feira, 23 de julho, o Brasil assistiu ao retorno de um de seus mais discretos artífices do equilíbrio institucional. Michel Temer, o homem que conhece o silêncio dos palácios e o ruído das crises, gravou um vídeo. Foi procurado por senadores que, diante da truculência tarifária de Donald Trump, recorreram à experiência de quem conhece os bastidores da diplomacia como poucos.

Trump, com sua habitual grosseria de feira, impôs uma tarifa de 50% às exportações brasileiras. Um tarifaço, como se diz nas redações. Mais que isso, revogou vistos de ministros do Supremo Tribunal Federal. Um gesto hostil e imperdoável. O Brasil, atônito, precisava de uma voz que não tremesse. E ela veio de São Paulo, com sotaque constitucionalista e tom de conciliação.

Temer não gritou. Expôs. Não enfrentou. Ensinou. Disse que é preciso buscar o consenso dentro de casa antes de atravessar fronteiras. Pediu sobriedade num país bêbado de improvisos. Propôs diálogo onde só se fala em revanche.

Alguns, certamente, dirão que é pouco. Outros, mais atentos, saberão reconhecer: num país em que a liturgia do cargo foi esquecida nos porões do populismo, ouvir um ex-presidente falar com decência já é um ato revolucionário.

Michel Temer entregou ao país aquilo que o país mais perdeu nos últimos anos: a noção de compostura. E, num momento em que o Senado busca saída para a crise, foi ao ex-presidente que recorreu. Um gesto revelador.

O vídeo está gravado. As palavras, ditas. Resta saber se Brasília, com sua surdez histórica, será capaz de escutar. Porque às vezes é preciso um jurista para lembrar aos políticos que a diplomacia começa com civilidade. E que o Brasil, antes de ser nação, precisa voltar a ser República.

redacao@colunapolitica.com.br

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