Ronaldo Nóbrega

Fundo BNDES-Sebrae pode ajudar pequenos agricultores contra tarifa dos EUA

Ronaldo Nóbrega  -   28 de julho de 2025

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Chega pelas frinchas do velho corredor do Planalto. O governo Lula, pressionado pelos ventos protecionistas que sopram de Washington, manobra. E manobra como quem conhece o jogo. A tarifa de cinquenta por cento imposta pelos Estados Unidos sobre produtos agrícolas brasileiros ainda nem esfriou na mesa dos diplomatas e já se busca o contra-ataque com o que há de mais doméstico: o Fundo Garantidor BNDES-Sebrae.

O mesmo fundo que, silenciosamente, começou a operar em junho por bancos como o Bradesco deve agora ser alçado à condição de escudo dos pequenos. Uma espécie de exército invisível que, mesmo sem cavalaria, pode garantir a travessia dos agricultores familiares em tempos de cerco internacional.

Há, nos subterrâneos da Esplanada, a leitura clara de que o governo não pode apenas lamentar a tarifa. Precisa responder com engenho e um pouco de ousadia. Mercadante, com seu ar de professor que sabe mais do que diz, deve levar a proposta ao ministro Haddad. E Haddad, que já começa a exibir olheiras de Estado, certamente enxergará não apenas uma ferramenta econômica, mas um ativo político.

Quem pisa o barro do interior e enfrenta sol e geada não entende de geopolítica, mas sente no bolso. E se o governo conseguir empacotar esse fundo com a marca de proteção aos pequenos agricultores, talvez transforme o amargo da tarifa no adubo de um novo discurso. Um discurso que afirma que não se dobra a espinha dorsal da agricultura familiar diante do império do norte.

Na prática, o fundo poderá garantir até oitenta por cento dos empréstimos, dispensando garantias reais e destravando bilhões adormecidos nos bancos. Com a bênção do Sebrae e o verniz da Embrapa, promete-se assistência, inovação, digitalização. Os termos que os gabinetes aprenderam a repetir, mesmo que às vezes sem entender.

Nos salões refrigerados da Embaixada americana os diplomatas sorriem pouco. Sabem que, neste jogo, um passo em falso pode custar não só um contrato, mas uma narrativa. E Brasília ainda é uma cidade onde narrativas valem mais do que hectares.

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