Ronaldo Nóbrega

Câmara perdida sem Pereira na presidência

Ronaldo Medeiros   -   2 de agosto de 2025

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A fala de Marcos Pereira, presidente do Republicanos e deputado federal por São Paulo, soou como um soco no estômago da política mambembe que domina Brasília. No quadro Fala Brasília da Record Interior SP, ele não se fez de rogado. Acusou o governo federal de omissão total diante do tarifaço de 50 por cento imposto por Donald Trump, que mira os setores mais produtivos do Brasil.

Em Brasília, onde se mistura blá-blá-blá ideológico e rodas de café desconectadas da realidade, é raro ouvir um parlamentar falar a verdade com tanta clareza. E mais raro ainda foi ouvir, numa dessas rodas de conversa de recesso num hotel da capital, a admissão discreta de um grupo de cinco deputados, tanto de direita quanto de esquerda, de que Marcos Pereira na presidência da Câmara seria uma bênção diante do caos que vivemos. Mas agora só resta Motta Lira, disse um deles, se referindo à força de manipulação que o ex-presidente da Câmara, Arthur Lira, tem sobre Hugo Motta, atual presidente da Casa.

O tarifaço não é só uma notícia ruim. É uma bomba que explodiu num tabuleiro comercial já combalido. O Brasil não tem um presidente de plantão, tem um governo que assiste, apático, enquanto Trump bate forte e o Planalto responde com cara de paisagem e notas técnicas inúteis.

Pereira não falou só para a plateia do Balanço Geral. Trouxe números que incomodam. Os Estados Unidos são o segundo maior mercado da carne bovina brasileira, compram 13 por cento do nosso petróleo e são o destino principal do café que ainda segura nossa balança comercial e nossa autoimagem. Não são abstrações, são empregos, são famílias, são cooperativas que sustentam o país.

Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, já avisou que o estado pode perder 120 mil empregos por conta do tarifaço. Pereira reforçou que o efeito será um apagão silencioso, com famílias sem renda, empresas reduzindo capacidade e um país assistindo ao próprio desmonte como quem vê novela das oito.

A crítica mais dura foi para o governo federal. Enquanto o Japão negocia firme e países sérios batem na porta da Casa Branca, o Brasil responde com vaidade, burocracia e passividade. 

Pereira disse o que o Itamaraty não tem coragem, o Brasil age como se nada estivesse acontecendo. Falta comando. Falta um discurso que vá além da ideologia vazia e que proteja quem carrega o piano da economia.

Nos bastidores, a fala de Pereira caiu como uma flecha no fígado. Ele não é de rompantes, mas enxergou o vazio de liderança e deu o primeiro passo. Num país onde as instituições preferem o silêncio por conveniência, a lucidez vira ato de coragem. A aposta é clara, enquanto o governo se perde em retórica, Pereira se firma como voz da economia real, do Brasil que trabalha, produz e acorda às cinco da manhã.

Por enquanto, o governo assiste. Silencioso. Letárgico. Quase contemplativo. Trump avança, o agro apanha, a diplomacia dorme. E o Brasil, como sempre, ajoelha-se diante da história e espera que o mundo seja gentil.

Mais do que nunca, é hora de deixar de lado os jogos de gabinete e encarar a dura realidade que ameaça o futuro do país. Quem terá coragem de assumir o volante? Até lá, a política de faz-de-conta segue fazendo vítimas reais.

redacao@colunapolitica.com.br

Ronaldo Nóbrega é jornalista, memorialista e Editor Sênior do portal Coluna Política, com mais de 25 anos de atuação na imprensa e na análise institucional. Foi consulente no Tribunal Superior Eleitoral por 12 anos. Em 2005, protagonizou a Consulta 1.185, que contestou a Regra da Verticalização e impulsionou a Emenda Constitucional nº 52/2006, fortalecendo a autonomia partidária no Brasil. Sua contribuição está registrada na 27ª edição do Direito Constitucional Esquematizado (Editora Saraiva), de Pedro Lenza.

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